FATOS
MEMORÁVEIS DE MEU PASSADO
Lorena Cristina dos Santos
Eu me chamo Juraci Maria Pereira dos
Santos, nasci em Vianópolis – Go em 1925, na Fazenda Santana. Fui criada com
muito carinho por meus pais José Donato Pereira e Adelina Lopes Pereira. Éramos
dez irmãos, mas dois deixaram saudades aqui na Terra. Ficamos muito tristes com
esses falecimentos. Meus pais também já faleceram, um com 58 anos e o outro com
63, deixando nossos corações abatidos.
Morávamos em uma casinha simples feita
de lascas de casqueiro – que eram tábuas feitas de cascas grossas de árvores.
Acordávamos muito cedo para carrear lenha e milho no carro de boi de meu pai.
Fazíamos uma “fornaia” de tijolos no meio do terreiro para cozinhar. Os móveis
eram todos improvisados porque não tínhamos dinheiro para mandar fazer novos. Naquela
época, os colchões tinham enchimento de palha de milho e os bancos eram feitos
de tocos.
Naquela época, não existia televisão e nem
rádio, ouvia-se músicas em gramofones de tromba e manivela. A primeira pessoa a ter televisão na região
foi meu cunhado. Todos os vizinhos iam a casa dele assistir TV, até parecia um
cinema de tanta gente. A TV pegava um único canal, e às vezes ficava fora do ar
um tempão. Telefones também não existiam, comunicava-se por cartas ou
telegramas.
Na comunidade onde vivíamos não havia
automóveis. Os principais meios de transportes eram o cavalo, a carroça, a
bicicleta e o carro de boi. Quando viajávamos para lugares mais distantes era
de trem que naquele tempo era chamado de Maria-Fumaça – uma locomotiva movida à
lenha. Lembro-me da viagem que fui para Senador Canedo, além da expectativa de
viajar, era muito bom ficar olhado as belas paisagens, as pessoas se
encontrando nas estações e as conversas entre os passageiros.
Naquela época fazíamos muitas travessuras na
ida para a escola. Divertia-me jogando terra em quem passava no caminho, depois
caía na gargalhada. Quando ia chegando em casa, sentia aquele cheirinho de
comida feita por mamãe, então corria para a cozinha. Enquanto almoçava,
lembrava-me do castigo que a professora Ofélia havia me dado: ajoelhar em cima
de grãos de milho porque bati em meu colega. Ficava torcendo para que meus
irmãos não contassem nada para meus pais. Desses sim, eu tinha medo, ou melhor, respeito.
Encho-me de saudades quando passo perto do
caminho por omde íamos à escola, onde brincávamos e aprontávamos nossas
travessuras.
Todas essas recordações ficaram em minha
mente até hoje. Apesar das dificuldades dava para enfrentar a vida simples,
alegre e sadia daquela época, onde tudo era transformado em festa e diversão.
Texto produzido por Lorena Cristina dos Santos,
Aluna do 7º ano da Escola Municipal “Antônio de Araújo Morais”, baseado em
entrevista com sua avó, Juraci Maria Pereira dos Santos; 53 anos.
Nos trilhos da lembrança
Pedro Henrique Pereira
Me
chamo Mauriti de Castro, tenho 65. Nasci e moro em Vianópolis-Go, na Fazenda
Santana. Sou casado, tenho quatro filho e seis netos.
O
lugar onde moro teve origem graças a Estrada
de Ferro Goiáz, que foi inaugurada em 1924, fazendo nascer o povoado de
Ponte Funda.
Sempre
gostei de andar de trem de ferro. Naquela época isto era considerado uma coisa
de luxo. Havia passagem de primeira
classe e de segunda classe. Na primeira classe havia o restaurante onde
podíamos saborear aquelas delícias!!! Ah, o cheirinho da comida se alastrando
pelo vagão dava água na boca. Sempre sentia um aperto no coração ao lembrar da
família que ficou para trás, pois o dinheiro nem sempre era suficiente para
todos viajarem.
Lembro-me
muito bem das viagens que fiz por todo esse Goiás, como era bom sentar-me
naqueles bancos ao lado da janela e poder ver as lindas paisagens lá fora:
árvores, rios, pássaros, cidades, pessoas...
Lembro-me bem
que na ferrovia havia um trem chamadado PI Noturno. Ele vinha de Araguari e em
Leopoldo de Bulhões fazíamos a baldeação, ou seja, trocávamos de trem; um trem
prosseguia para Anápolis e o outro para Goiânia.
Mas toda a
minha alegria acabou-se um dia, pois mais ou menos em 1976 a ferrovia parou de
transportar pessoas porque estava dando prejuízo. O asfalto foi se estendendo
por todo estado de Goiás, aumentando a quantidade de carros, e o trem foi
esquecido pela maioria das pessoas.
Para mim, o
trem de ferro ficou para trás, mas nunca sairá de minha lembrança.
Pedro
Henrique Pereira. Escola Municipal Antônio de Araújo Morais, 2012. Texto
produzido baseado em entrevista realizada com Mauriti de Castro, 65 anos.
Saudades de minha terra
Samara
Caldas Silva
Antes
de virmos para o estado de Goiás morávamos no Maranhão em cidadezinha perto de
São Luís. Lá as casas eram simples, não muito pequenas, mas com poucos móveis.
Todos eram simples sem ambição.
Eu
e minha família, principalmente minha mãe, sempre nos dávamos bem. Todos os
dias, logo cedo, eu ia a cãs dela. Adorava nossas conversas, ela era tão
carinhosa e amável. Meu pai era meio mandão, mas tão cuidadoso e bem humorado.
As minhas irmãs, tão brincalhonas. Claro que não eram perfeitas, mas tinham
suas qualidades.
Com
o passar do tempo tivemos que deixá-los para trás. Emprego estava difícil de
encontrar. Então a irmã de meu marido que morava aqui em Goiás, disse a ele que
lá era mais fácil de arrumar trabalho e que ela poderia ajudá-lo a encontrar
um. Primeiro veio ele, em seguida eu, e logo depois minha filha.
Moramos
primeiro em Goiânia em uma chácara. Mas meu marido não estava satisfeito com o
salário e resolveu pedir demissão. Então viemos morar aqui em Vianópolis, em
uma fazenda. A renumeração era melhor, só que meu marido não estava dando conta
do trabalho e pediu demissão novamente. Por isso, viemos morar na Fazenda
Santana onde estamos até hoje.
Agora
vou levando a vida conforme Deus quer. Foi meio difícil no começo ficar longe
de minha família, mas consegui superar com a ajuda de minha filha e de meu
marido. Mas confesso que às vezes ainda choro escondida de saudades deles. Aqui
as condições de vida são melhores, mas ainda pretendo voltar para minha a terra
algum dia.
Samara
Caldas Silva. Texto. Escola Municipal Antônio de Araújo Morais, 2012. Texto
produzido baseado em entrevista com Maria dos Anjos Evangelista Caldas, 35
anos.
Minhas
lembranças
Bianca
Vieira
Nasci em 28 de Fevereiro de
1952 em Orizona-Go.
A
vida antigamente era diferente. Meu pai trabalhava com carpideira. Eu tinha que
ajudá-lo na roça para sustentar a família. Minha mãe era dona de casa.
Socávamos arroz no pilão porque naquela época não havia produtos ensacados e
limpos como hoje. Também tínhamos que socar milho para fazer canjica.
Alguns
anos depois casei e me mudei para Ponte Funda, município de Vianópolis-Go.
Naquela época, aqui era tudo cerrado. Havia poucas casas, uma capela e uma
escola. Não tinha água encanada, nem energia elétrica. Usávamos lamparinas para
iluminar à noite.
Com
a chegada dos migrantes, o povoado foi crescendo. Para nossa alegria,
construíram um mercado, pois antes tínhamos que ir a Vianópolis para fazer
compras na mercearia de lá.
Antigamente,
a vida era bem melhor, pois não havia tanta tecnologia e precisavam de muita
mão de obra. Hoje não há trabalho para todos. Também não tinha tantos jovens no
mundo do crime e das drogas.
Aquele
tempo era de muita alegria e simplicidade. Tenho saudades e me emociono ao
lembrar da tranquilidade daquele tempo.
Bianca
Vieira. Escola Municipal Antônio de Araújo Morais. Texto baseado em entrevista
com Aparecida Vieira Machado, 60 anos.
Meus
velhos tempos
Carlos
Augusto de Souza Silva
Meu
nome é Edésio Godofredo da Silva e tenho 41 anos. Nasci em Pires do Rio-Go, mas
sempre morei aqui no povoado de Ponte Funda, município de Vianópolis-Go.
O
nome do povoado, Ponte Funda, teve origem há muito tempo atrás, por causa de
uma ponte que os escravos construíram aqui perto.
Antigamente,
não havia muitas casas aqui. Só uma mercearia, onde todos compravam o que
precisavam, a estação ferroviária, algumas casas, dois bares e nada de asfalto.
Havia uma estrada de chão por onde passavam muitos carros de boi, por isso ia
socando a terra até ficar lisinha. Também passava muitos carroceiros. Quase
nunca passava carros.
A
vida de antigamente era muito boa. Tínhamos muitas brincadeiras, como:
pega-pega, pega-varetas, pique-esconde, e muitas outras brincadeiras.
Gostávamos de brincar de carrinho e de fazendinha.
Quando
estávamos mais velhos, gostávamos de sair com os amigos para as festinhas e
bailes que tinha naquela época. Mas, também tínhamos que trabalhar muito: dar
comida para os porcos, tratar das galinhas e outros bichos, pegar lenha,
recolher os ovos dos ninhos...Se não fizéssemos a obrigação do dia não podíamos
sair para lugar nenhum.
Lembro-me
que era difícil desobedecer aos pais, mas se fizéssemos algo errado todos os
seis irmãos apanhavam para não aprontar o mesmo que o outro.
Depois
que eu chegava da escola, pegava a bicicleta cargueira do meu pai, enquanto
minha mãe terminava o almoço. Assim que terminava, ela arrumava a comida num
caldeirão, amarrava a tampa com um cordão e colocava na garupa da bicicleta
para eu levar almoço para meu pai e os peões. Depois do almoço, eu tinha que
ajudá-lo a arrancar o feijão. Depois de terminado o serviço ainda tinha que
andar de bicicleta para voltar para nossa casa no povoado que ficava muito
distante da roça. Analisando, pensamos que a vida daquela época era muito
difícil, mas acostumávamos a ajudar nossos pais a fazer as obrigações e aquilo
se tornava uma rotina.
Sempre
tive essa vidinha, mas fui muito feliz, assim como sou até hoje.
Carlos
Augusto de Souza Silva. Escola Municipal Antônio de Araújo Morais. Texto
baseado em entrevista com Edésio Godofredo da Silva, 41 anos.
Lembranças
de um passado feliz
Bianca Heloísa Lobo Campos Leite.
Aos quarenta e três anos, Fernando de Souza
Campos, vive de forma pacata na zona rural da cidade de Vianópolis-Go.
"Nasci aqui. Mas entre 1969 e 1974 fui
morar na capital goiana. Acabei voltando porque aqui estava a minha verdadeira
paixão: as belezas desta região de cerrado.
Cresci com meus sete irmãos aqui. Tenho
muitas lembranças dessa época. Nossas
diversões eram jogar bola, subir em árvores, fugir de nossa mãe para tomar
banho de rio, e outras travessuras sadias que agora não me lembro.
Com fim da infância veio a escola. Lá
apenas um professor lecionava para todas as séries e as salas sempre estavam em
péssimas condições por falta de incentivo.
Na época eu odiava estudar, então eu e meus
amigos desviávamos do caminho da escola para tomar banho de rio, caçar
passarinhos e frutos no cerrado. E às vezes nem ia para a escola para ajudar no
serviço da roça.
E havia outras travessuras. Um dia derrubei
por gosto a roupa do varal, quando me virei meu pai estava atrás de mim com uma
varinha de marmelo. Eu corri e subi num pé de manga. Ele me achou e me fez
descer. Nunca mais apanhei tanto. Dói até hoje.
Apesar de tudo, naquela época eu era feliz e
não sabia. Agora eu só tenho saudades daqueles tempos."
Bianca
Heloísa Lobo Campos Leite. Escola Municipal Antônio de Araújo Morais, 2012.
Texto produzido baseado em entrevista realizada com Fernando de Souza Campos,
43 anos.
muitooh bom me ajudou bastante
ResponderExcluirMuito legal me ajudou a ver como se produz uma memória literária :-) :-) .....parabéns a todos os alunos:-) :-) :-)
ResponderExcluirgostei
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